E como um só quadro, uma só obra, uma só pintura, um só exercício não me parece que chegue... Ando a preparar uma pequena série de quadros de menores dimensões dos que por norma costumo fazer, a café. Exacto!
Aqui fica o segundo...

"Perfume de Mulher"
Café sobre tela
30 x 40 cm
2010
Sara Vieira
E alguns pormenores...

Não é uma técnica que confira grande exactidão mas sim impacto. Não funciona por traço mas sim por mancha, quase como se fosse a técnica do desenho realizado com a borracha por cima do fundo de carvão... mas com aguadas que fazem lembrar aguarela... E o resultado com cor café, chocolate, caramelo, sépia é muito interessante.
Ando numa fase de experiências... De conhecer novas texturas, inalar diferentes aromas, provar outros sabores... Numa fase de exploração e descoberta...
Pensando bem, acho que ando sempre nessa fase! Afinal, a vida é curta para o que quero viver e fazer... Pena não ser como os gatos, só tenho uma vida... Portanto, há que correr!
Já dizia o ditado "parar é morrer" e nisto das Artes acredito, seriamente, que vou morrer muito antes de descobrir tudo. É, realmente, um mundo infinito de criatividade, materiais, técnicas... É outro mundo. Um mundo inteiro paralelo ao meu...
Bem, decidi experimentar pintar com café.
Café sobre tela.
Não é um processo que me apaixone, para ser franca, mas do qual muito aprecio o resultado final.
Ficamos com uma obra aromática, com um cromatismo único e muito natural e com um brilhooooooo..... Parece caramelo cristalizado...
Aqui fica...

"Mulher (café) I"
50 x 60 cm
Café sobre tela
2010
Sara Vieira
Do Rio e do Mar

Ela era um rio. Ele era um mar.
Ela era doce. Ele era salgado.
Ela corria saltitante pelos campos verdes, contornando uma ou outra rocha.
Ele era calmo e a perder o infinito, profundo e triste.
Ela era ardilosa, cheia de remoinhos onde menos se esperava.
Ele sofria de cóleras de tempos a tempos, uma força da Natureza, capaz de arrastar terras e pessoas.
Um dia, ela foi correndo, correndo, cheia de pressa sem saber bem porquê e tropeçou numas cataratas que desaguavam no mar. Ainda quis regressar mas já não teve força para parar o seu impulso.
Nesse dia, o mar estava calmo e, com a afluência do rio, a sua maré encheu doce e suavemente. O rio, assustou-se, sentiu-se perdido, sem saber para onde correr na imensidão. Soltou uma lágrima que provocou uma pequena onda no mar.
O mar sentiu vontade de embalar o rio, devagarinho, devagarinho. Assobiou-lhe uma cantiga ao ouvido.
O rio estremeceu de prazer com o que o mar lhe cantava baixinho.
O mar, sabendo que o rio não podia fugir e que já fazia parte de si, abraçou-o de mansinho e com ternura sentou-o ao colo.
O rio, mais tranquilo e completamente rendido aos braços fortes do mar, encostou a sua cabeça na onda e sentiu o pulsar do coração alheio a acelerar.
O mar beijou o rio com suavidade e sabedoria.
O rio teve a certeza de que o mar também lhe pertencia e apaixonou-se perdidamente. O mar quis fazer amor com o rio mas o rio assustou-se e tentou fugir.
Em vão, porque o mar saiu logo no seu encalce. Correram separados para depois correrem juntos.
O rio, cansado de recear os sentimentos, deixou-se apanhar pelo mar. De tal forma se envolveram, entre festas e outras carícias, que fundidos num só, rebolaram, enrolados numa sofreguidão quase ensandecida.
Perderam a conta aos dias, às luas, às marés. Criaram ondas e ondas até que sem se aperceberem caíram no oceano... No oceano da eternidade, onde estavam destinados a darem beijos com sabor a algas e a icebergues para que pudessem sempre regressar às origens. Para que o mar pudesse voltar a ser um mar triste e profundo e o rio reencarnasse alegre e inquieto. Para que se voltassem a encontrar, a completar e celebrassem com alegria o forte sentimento que os unia. Para que esse amor fosse cada vez maior e mais forte.
O mar e o rio estavam destinados a pertencerem um ao outro por séculos e séculos... Até deixarem de ser água, doce e salgada, e o seu amor secar...
OBS.: Texto de ficção escrito e ilustrado por mim
P.S. -
Claire!