Do Rio e do Mar
Ela era um rio. Ele era um mar.
Ela era doce. Ele era salgado.
Ela corria saltitante pelos campos verdes, contornando uma ou outra rocha.
Ele era calmo e a perder o infinito, profundo e triste.
Ela era ardilosa, cheia de remoinhos onde menos se esperava.
Ele sofria de cóleras de tempos a tempos, uma força da Natureza, capaz de arrastar terras e pessoas.
Um dia, ela foi correndo, correndo, cheia de pressa sem saber bem porquê e tropeçou numas cataratas que desaguavam no mar. Ainda quis regressar mas já não teve força para parar o seu impulso.
Nesse dia, o mar estava calmo e, com a afluência do rio, a sua maré encheu doce e suavemente. O rio, assustou-se, sentiu-se perdido, sem saber para onde correr na imensidão. Soltou uma lágrima que provocou uma pequena onda no mar.
O mar sentiu vontade de embalar o rio, devagarinho, devagarinho. Assobiou-lhe uma cantiga ao ouvido.
O rio estremeceu de prazer com o que o mar lhe cantava baixinho.
O mar, sabendo que o rio não podia fugir e que já fazia parte de si, abraçou-o de mansinho e com ternura sentou-o ao colo.
O rio, mais tranquilo e completamente rendido aos braços fortes do mar, encostou a sua cabeça na onda e sentiu o pulsar do coração alheio a acelerar.
O mar beijou o rio com suavidade e sabedoria.
O rio teve a certeza de que o mar também lhe pertencia e apaixonou-se perdidamente. O mar quis fazer amor com o rio mas o rio assustou-se e tentou fugir.
Em vão, porque o mar saiu logo no seu encalce. Correram separados para depois correrem juntos.
O rio, cansado de recear os sentimentos, deixou-se apanhar pelo mar. De tal forma se envolveram, entre festas e outras carícias, que fundidos num só, rebolaram, enrolados numa sofreguidão quase ensandecida.
Perderam a conta aos dias, às luas, às marés. Criaram ondas e ondas até que sem se aperceberem caíram no oceano... No oceano da eternidade, onde estavam destinados a darem beijos com sabor a algas e a icebergues para que pudessem sempre regressar às origens. Para que o mar pudesse voltar a ser um mar triste e profundo e o rio reencarnasse alegre e inquieto. Para que se voltassem a encontrar, a completar e celebrassem com alegria o forte sentimento que os unia. Para que esse amor fosse cada vez maior e mais forte.
O mar e o rio estavam destinados a pertencerem um ao outro por séculos e séculos... Até deixarem de ser água, doce e salgada, e o seu amor secar...
OBS.: Texto de ficção escrito e ilustrado por mim
P.S. - Claire!
De
Eduardo a 15 de Agosto de 2008 às 10:14
Lindo texto e ilustração.
Bonita participação!
A TERTÚLIA VIRTUAL agradece!
Bjs
De
Sara V. a 18 de Agosto de 2008 às 12:30
Obrigado, Eduardo!
Fico feliz pela Tertúlia ter gostado.
Beijo
Viva, Sara!
E excelentemente escrito. Parabéns.
Abraço
Ruben
De
Sara V. a 18 de Agosto de 2008 às 12:34
Olá, Ruben!
Obrigado. A "água" oferece mil possibilidades, mil imaginários... Corre, flui...
Hei-de dar um saltinho no seu blog também, mal tenha um tempinho.
Abraço
De
jugioli a 15 de Agosto de 2008 às 17:06
Linda participação.
adorei o seu blog.
bjs.
JU Gioli
De
Sara V. a 18 de Agosto de 2008 às 12:36
Obrigado, Ju!
Então, espero que volte:)
Irei retribuir a visita.
Beijo
De
Claire a 18 de Agosto de 2008 às 13:48
Chiii, passei tantas vezes pelas tertúlias e não vi o teu nome, lol. Que bom teres participado com tanta ternura. Piscadolho, sorrisos, beijinhos.
De
Sara V. a 20 de Agosto de 2008 às 00:50
Chiii, já estava a estranhar, hehe! Claro. Aceitei o convite logo na altura... E obrigado pela dica, é engraçado participar na Tertúlia!
Sorrisos, "contorcionismo de orelhas" e beijinhos:) :) :)
Excelente participação. Gostei da simplicidade do desenho e da intensidade da história. O fim é triste. Mas não é o fim sempre trista por definição? Abraço.
De
Sara V. a 20 de Agosto de 2008 às 00:53
Obrigado!
E a leitura que fez, tanto da história como da ilustração, está bastante correcta... de acordo com o que me passou pela cabeça quando escrevi e pintei. Apenas não sei se diria "triste", talvez mais "nostálgico".
A história é intensa mas pura, pelo que o desenho teria que ser simples e até talvez um pouco naif...
Abraço
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